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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

2014: um ano atípico para o PT - Por Antônio Augusto de Queiroz*


A última coluna do ano destina-se a fazer uma breve avaliação dos percalços pelos quais o PT passou durante o processo eleitoral – os quais ainda persistem no período pós-eleitoral, inclusive com ameaça de golpe.

O partido, frente à conjuntura e aos boatos das forças conservadoras, teve uma vitória fundamental ao reeleger a presidenta Dilma, mas é preciso reconhecer que perdeu bancada no Congresso e nas Assembleias Legislativas e saiu com sua imagem arranhada.

A redução das bancadas decorreu, de um lado, da prioridade conferida à renovação do mandato no governo federal, que forçou o partido a fazer concessões às agremiações partidárias aliadas, até mesmo as de centro e centro-direita; e, de outro, dos ataques das forças conservadoras, com prejuízo político e eleitoral.

A reeleição da presidenta Dilma era estratégica, e talvez isso explique tantas concessões a outras legendas e tantos sacrifícios ao partido, com alianças sem identidade programática. O caso de Pernambuco é ilustrativo. Sem coligação, com os votos que teve, o PT teria eleito três deputados federais; na coligação, não elegeu nenhum. Isso se reproduziu em outros estados.

Já a campanha das forças conservadoras, liderada pela mídia e pelos partidos de oposição, que atribui ao PT a suposta degradação moral do país, teve peso igual ou superior às alianças que o partido precisou fazer para reeleger a presidenta.

A ofensiva dos adversários não foi respondida adequadamente. Eles conseguiram associar a imagem do partido às irregularidades, e isso teve como reflexo, além de uma reeleição apertada da presidenta, a redução da bancada na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas.

Passadas as eleições, é hora de resgatar a imagem do partido, que foi fortemente afetada durante a campanha, inclusive por supostos aliados. O PT não se beneficiou eleitoralmente das conquistas econômicas e sociais do governo, que foram muitas, e ainda foi responsabilizado sozinho por suposta degradação moral do país.

Além disso, não soube explorar o fato de que a descoberta de desvios de conduta, presentes em quase todos os partidos e nos três níveis de governo, mas irresponsavelmente atribuídos apenas ao PT, só foi possível porque o governo Dilma propôs, apoiou ou sancionou leis que facilitaram a identificação desses casos – leis contra lavagem de dinheiro, lei de conflito de interesses, lei geral de acesso à informação, lei de responsabilização da pessoa jurídica, lei que obriga a divulgação em tempo real dos gastos dos três níveis de governo etc. – e não interferiu, como era comum no passado, na autonomia dos órgãos de fiscalização (TCU, MPU e Polícia Federal).

Para desfazer essa percepção equivocada e resgatar a imagem do PT como partido de massas, ético, combativo e comprometido com as causas da população, a direção precisa ouvir e valorizar mais a militância, investir mais em formação, comunicar-se melhor e, principalmente, fazer a luta política, não deixando sem resposta nenhum ataque à integridade e aos compromissos do partido com seu programa e sua doutrina.

A omissão no sentido de responsabilizar, civil e penalmente, todos os autores dos ataques e acusações infundadas contra o PT, seus dirigentes e militantes, difundidos sobretudo em redes sociais, também estimulou a divulgação e reprodução dessas mentiras a respeito do partido, mesmo depois das eleições. Há um cheiro de golpe, e é preciso reagir.

O PT ganhou a eleição presidencial, a despeito dos boatos e baixarias dos adversários, inclusive em Minas Gerais, reduto eleitoral do candidato de oposição, Aécio Neves. O partido não pode nem deve permitir que, por pressão da mídia, sejam retirados da presidenta o poder sobre a economia nem o controle sobre a agenda governamental, como querem as forças de mercado.

Agora é reconstruir a imagem do partido, fortalecer os laços com a base social e se preparar para fazer uma grande gestão no governo federal e criar as condições para uma ampla vitória nas eleições municipais em 2016. Cabeça erguida e altivez na defesa do legado dos últimos doze anos.

* Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap

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