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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Concentração de médicos nos grandes centros é absurda e assustadora

Felizmente obtém o mais amplo espaço na mídia hoje o estudo Demografia Médica no Brasil 2: Cenários e Indicadores de Distribuição, elaborado e divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O trabalho mapeia o número de médicos existente no país e sua concentração nos grandes centros urbanos - algo já sabido -, o que leva à desigualdade na distribuição e à precariedade no atendimento médicohospitalar.

Não sem razão, portanto, a questão merece ser estudada e aprofundada. Pelo estudo do CFM, o Brasil tem atualmente dois médicos para cada mil habitantes. A região Sudeste lidera o ranking com 2,67 profissionais por mil habitantes, seguida pelo Sul, com 2,09, e pelo Centro-Oeste, com 2,05. Já no Nordeste, o índice é 1,23 e no Norte, 1,01.

O estudo aponta que essa distribuição desigual de profissionais de saúde pode ser observada também entre as unidades da Federação: Brasília, por exemplo, tem 4,09 médicos por mil habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro (3,62), São Paulo, (2,64), Rio Grande do Sul (2,37), Espírito Santo (2,17) e Minais Gerais (2,04).

A situação continua a apresentar este assustador desequilíbrio, apesar de o estudo mostrar que mais de 388 mil profissionais de saúde atuavam no país até outubro de 2012. E que de 1970 - quando existiam 58.994 médicos no país - ao último trimestre do ano passado, o número de médicos cresceu impressionantes 557,72%. O percentual é quase seis vezes maior em comparação ao do crescimento da população brasileira que, em cinco décadas, aumentou 101,84%.

Como levar os médicos para o Norte e o Nordeste do país?

Uma alternativa que sugiro ser discutida é que os formados por escolas públicas obrigatoriamente comecem a trabalhar nos serviços de saúde pública. Idem os formados com bolsa do ProUni - Programa Universidade Para Todos, e do FIES - programa de Financiamento Estudantil. Alunos de medicina formados com financiamento público devem zerar suas dívidas (começam a pagar após estarem formados) com a prestação de serviços em locais com carência de médicos.

Obviamente há que se estudar políticas de melhores salários para esses profissionais, bem como as relativas à residência médica e a planos de carreira para os médicos do SUS. Estas políticas, aliás, já foram elaboradas, implantadas e existem em muitas regiões do país. Ampliadas e aprimoradas, com o tempo o próprio desenvolvimento do país distribuirá melhor os médicos pelo território nacional, desde que sejam criadas condições adequadas para isto.

Há também aí a se debelar um problema de cultura e mentalidade. Vejamos: já há prefeituras que oferecem salários superiores a R$ 8 mil mensais e condições para estes médicos concluírem residência e muitos não aceitam. Não querem viver fora das grandes cidades. Querem viver em grandes ou médios centros regionais e trabalhar 4 horas por dia...

O país nunca teve tantos médicos

Conforme afirmou ao divulgar o trabalho do CFM o professor da Universidade de São Paulo (USP), Mário Scheffer - coordenador do estudo -, o país nunca teve tantos médicos em atividade em razão de fatores como a abertura de cursos de medicina, o aumento de novos registros (mais de 4% ao ano) e a maior longevidade profissional. "Mas quem mora nas regiões Sul e Sudeste tem duas vezes mais médicos do que quem vive no Norte e no Nordeste", disse o coordenador da pesquisa.

“O Brasil é um país de médicos jovens. A idade média é 46 anos, sendo que mais de 40% deles têm menos de 40 anos. Com isso, eles ficam cada vez mais anos trabalhando na profissão, o que amplia o contingente de médicos à disposição”, disse. “Mas o aumento persistente do efetivo médico não beneficiou de maneira homogênea todos os cidadãos brasileiros”, completou.

A expectativa, segundo Scheffer, é que o país alcance um total de 400 mil profissionais de saúde este ano, sendo que 55,5% atuam no SUS. “Mas é uma presença insuficiente para um sistema universal. Precisamos definir como deslocar os médicos que estão em outras estruturas para trabalhar no SUS”, considera Scheffer.

É urgente reduzir a diferença de concentração entre regiões
De acordo com o estudo, em outubro do ano passado havia 388.015 médicos em atividade no país. O aumento do efetivo de profissionais tem se mantido entre 4% e 5% por ano, segundo o presidente do CFM, Roberto D'Avilla. Apesar do crescimento, ele afirma que é preciso reduzir essa diferença de concentração entre as regiões.

"O número de médicos e faculdades de medicina é suficiente. O que precisamos é levar jovens estudantes para regiões que têm mais necessidade", disse D'Avilla. A pesquisa também aponta que 215,6 mil, ou 55% dos médicos que atuam no Brasil, estão no sistema público de saúde. "Defendemos uma carreira de Estado para médicos do SUS (Sistema Único de Saúde), com dedicação exclusiva para o serviço público, salário digno e aperfeiçoamento contínuo", afirmou D'Avilla.

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