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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE: Visita aos waimiri-atroari ainda é incerta

Comissão Nacional da Verdade, que investiga violações contra direitos humanos durante a ditadura, planeja vir ao Amazonas.
Em 2003, os waimiri-atroari festejaram o nascimento do milésimo bebê, Iawyraky
Há três meses, a Comissão Nacional da Verdade criou uma comissão específica para investigar violações contra os índios do povo suruí, cuja terra está localizada no Pará, durante a ditadura militar. A psicanalista Maria Rita Kehl, que integra a CNV, já iniciou os diálogos com os jovens que vão ajudá-la nessa investigação, colhendo depoimentos dos indígenas suruí mais velhos.

No Amazonas, a expectativa é que uma comissão nesses moldes também seja desenvolvida junto aos índios waimiri-atroari, povo que, segundo relatos do indigenista Egydio Schwade, do antropólogo Stephen Baines, da jornalista Verenilde Pereira, e de tantos outros que trabalharam com este povo, também foram vítimas da ditadura. Há uma estimativa que duas mil pessoas da etnia tenham morrido durante o processo de ocupação de suas terras para construção da rodovia 174 e construção de empreendimentos para exploração e escoamento de minério dentro de suas terras.

Não faço parte do comitê no Amazonas da CNV, mas tenho acompanhado os debates, as deliberações dos seus integrantes, bem como as notícias referentes a estes debates. Uma dessas notícias era (ou é, depende ainda de decisões a serem tomadas) que Maria Rita Kehl viria a Manaus neste mês de fevereiro. O roteiro incluía reuniões em Manaus, em Presidente Figueiredo e, claro, em uma das aldeias do povo waimiri-atroari. A data prevista da visita estava marcada para os próximos dias 22 e 23.

Soube na semana passada que esse cronograma não está confirmado. O plano esbarra na dificuldade de se organizar até o dia 22 os representantes das 30 aldeias waimiri-atroari, segundo explicações do coordenador do Projeto Waimiri-Atroari (PWA), Porfírio Carvalho, dadas à CNV.

Sendo assim, há agora um impasse se essa reunião e a visita de Maria Rita deste mês vão ou não vão acontecer. A outra alternativa é aguardar final de março, que é quando poderá ocorrer uma grande reunião de todas as aldeias waimiri-atroari.

Dois parênteses. Para quem não sabe, o PWA é quem coordena as ações junto aos waimiri-atroari – e não a Fundação Nacional do Índio (Funai) – desde os anos 80. O PWA é um programa da Eletronorte criado para compensar os imensos impactos sociais e ambientais causados na terra dos waimiri-atroari pela Hidrelétrica de Balbina.

Desde então, qualquer contato com os waimiri-atroari é feito por meio do PWA. Eu mesma não sei como é essa relação. Nunca entendi. Das vezes que tentei (sem sucesso) ir na aldeia dos waimiri-atroari os contatos sempre foram PWA e não Funai. O acordo de criação PWA foi firmado para durar 25 anos, prazo que se encerra, aliás, neste ano de 2013. A Eletronorte ainda não informou se vai renovar.

Esperemos que as notícias sobre os crimes da ditadura junto aos waimiri-atroari não fiquem apenas nos relatos descritos nos texto de Egydio Schwade e outros indigenistas que conheceram aquela realidade.

Corre uma versão que os waimiri-atroari não estão muito empolgados em falar sobre este período. Que, segundo consta, eles não estão animados para desenterrar esse assunto. Pode ser. E pode não ser. Para tirar qualquer dúvida, o ideal seria perguntar dos próprios. Para que tudo se esclareça, que não permaneça oculto ou abafado. Se eles não querem falar, é melhor saber diretamente deles. E não apenas de uma aldeia ou de um grupo. Mas de todos.

Carta de Porfírio Carvalho

O coordenador do PWA, Porfírio Carvalho, me enviou nesta quarta-feira (13) um email no qual esclarece sobre a informação que repassou a Maria Rita Kehl a respeito da visita aos waimiri-atroari. Carvalho disse que foi informado sobre a visita (que ocorreria no último dia 08) ao ler matéria de um jornal local. Transcrevo o que Porfírio Carvalho me escreveu:

“Procuramos saber com os Waimiri Atroari se eles sabiam desta importante visita. Eles disseram que não e que naquela data não seria possível a visita, pois estavam em plena atividade cultural, (iniciação de 16 crianças) e que a maioria das lideranças estavam retornando às suas aldeias em caminhada por dentro da floresta com as crianças iniciadas e que devido as grandes distancias entre elas – algumas cerca de 500 quilômetros – (não dispersas pelo o Amazonas) a previsão de chegada nas aldeias era aproximadamente 30 dias.

Nessas caminhadas cultural pela floresta – eles vão acampando, ensinando métodos de orientação, caçando, pescando – daí a minha preocupação de entrar em contato com a Senhora Maria Rita para a confirmação da sua agenda a serviço da Comissão da Verdade e de uma provável visita dela a aldeia Yawara.

Expliquei também que uma visita dela para tratar de assunto tão relevante para os Waimiri Atroari, as lideranças de todas as 30 aldeias existentes, querem participar da reunião. Não apenas uma aldeia. E como as lideranças estavam em atividades culturais com previsão de término no inicio de março, por sugestão deles, a melhor data seria no final do mês, pois estarão se reunindo no Nawa para tratar de outros assuntos de interesse deles.

E como no Nawa tem estrutura para a realização de uma reunião com todas as lideranças e fica em local central da Terra Indígena Waimiri Atroari, (na margem direita do rio Alalau, a reunião com a senhora Rita Kehl poderá ser lá, isto independente dela, se assim quiser e atendendo convite dos Waimiri Atroari, visitar as aldeias.

A pedido dela, estarei entrando em contato com um dos assessores dela e da Comissão da Verdade, para acertarmos a data provável reunião com os Waimiri Atroari”.


Fonte: http://acritica.uol.com.br/blogs/blog_da_elaize_farias/Visita-waimiri-atroari-incerta_7_863983595.html

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