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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manaus: “342” anos de velhação...


Por: Jonas Gomes da Silva*

A vigésima segunda coluna visa apresentar dados comparativos e as causas do baixo nível de inovação em Manaus, a fim do(a) nobre leitor(a) refletir sobre o assunto e pensar em meios de mudar a velha ação de gestão existente na cidade.

Capital do Amazonas, Manaus: (1) tem cerca de 1.803 milhão de habitantes (IBGE 2010); (2) em 2010 gerou PIB de R$ 47,5 bilhões, dos quais R$ 8 bilhões foram provenientes de impostos (Fonte: Depi/SEPLAN-AM); (3) foi a capital cujo Governo Estadual, investiu entre julho de 2003 a novembro de 2010, cerca de R$ 280 milhões em desenvolvimento de pesquisas, formação de capital humano, inovação tecnológica, além de infraestrutura e pesquisa em saúde (Fonte: Fapeam).

O s gestores locais, mais acostumados em fazer política e ler relatórios em seus confortáveis escritórios, do que em conhecer o dia a dia da maioria da população manaura, anunciam com orgulho que a cidade de Manaus: (1) é considerada o principal centro financeiro, corporativo econômico da Região Norte do Brasil, estando entre as 6 cidades mais ricas do Brasil; (2) é a quarta maior cidade do país em arrecadação de impostos; (3) é a capital cujo governo do estado vem investindo alto em C&T&I nos últimos anos, contribuindo para o aumento de 400% na quantidade de doutores (372 em 2000 e 1728 em 2010) e no número de pesquisadores no Estado, passando de 790 em 2000 para 3827 em 2010.

Reconhecemos que desde 2002, o Governo Federal estimulou a criação de Secretarias Estaduais de C&T e Fundações para fomentar a pesquisa. Esta iniciativa em parceria com os governos estaduais ajudou a melhorar os indicadores de C&T no país e Amazonas. No entanto, apesar do alarde, o investimento feito no Estado (maior parte concentrado em Manaus) em C&T&I está abaixo dos padrões internacionais. Por exemplo, enquanto se divulga para os 4 cantos do país que o Governo do Estado do Amazonas por 7 anos e 4 meses investiu por meio da Fapeam, R$ 280 milhões em C&T&I, este valor representa apenas 0,59% do PIB de 2010. Se soubermos quanto foi investido em 2010 e dividirmos pelo PIB do mesmo período, este índice piora. Enquanto isso, a Coreia do Sul, 2o país mais amigável à inovação, investe uma média anual de 3% do seu PIB com apenas P&D e almeja aumentar este índice para 5% em 2012. 

De igual modo, se compararmos o número de pesquisadores por Estados, perceberemos que capitais com PIB inferior a Manaus, detém uma quantidade superior de pesquisadores em sua unidade federativa. No Quadro 1, percebe-se nossa defasagem intelectual, a qual é levada em consideração durante a escolha de uma cidade para se fazer investimento de alto valor agregado no Brasil, como é o caso da Foxcom. Vale à pena ressaltar que não comparamos com São Paulo/RJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Curitiba/PR e Belorizonte/MG, com PIB maior que Manaus, as quais nos últimos anos têm capitado investimentos de peso vindos do exterior. 

Quadro 1. No de Pesquisadores em 6 capitais brasileiras

Capitais com PIB abaixo de Manaus.
PIB em
2010*
** Número de Pesquisadores
Defasagem de Manaus/Am
Porto Alegre (RS) 7o lugar
36774704
19112
-15283
Salvador (Ba) 12o Lugar
29668442
10534
-6707
Fortaleza (Ce) 15o lugar
28350622
5002
-1175
Recife (Pe) 20o lugar
22452492
7561
-3734
Belém (Pa) 23o lugar
15316130
4455
-628
Florianópolis (SC) 50o lugar
8120986
8811
-3827
* PIB a preços concorrentes (1000 R$); Fontes:*IBGE (2010) e **Plano Tabular do CNPq (2010)
A pesar das estatísticas apontarem para uma melhora no número de artigos científicos publicados no Amazonas (34062 em 2010), grande maioria se concentra nas ciências biológicas (26794=78,66%), sendo que na Engenharia (2359) este índice é de apenas 6,9%. Com “tanto” investimento em publicação será que estes artigos se converteram em algo prático com geração de renda ou melhoria na vida dos Amazonenses? Acredito que não, pois informações do INPI, revelam que a quantidade de pedidos de patente e de desenho industrial (design de um produto) no Amazonas caiu de 44 solicitações em 2008 para 27 em 2009, representando uma redução de 38,63%. Assim, o que adianta termos 34062 artigos publicados se apenas 0,079 % (usando os dados de 2009-27/34062) deles formalmente pode gerar inovação no Estado?

Manauaras, se nos últimos 8 anos, com “tanto” investimento em C&T&I, como ufana os órgãos governamentais, não temos conseguido gerar uma cultura de inovação tecnológica no Estado, imaginem os 316 anos anteriores a estes? Assim, é preciso repensar nosso sistema de C&T&I e aqui lanço algumas causas da baixa inovação no Estado: Politização partidária do Sistema de C&T&I; Investimento em C&T&I abaixo dos padrões internacionais; Gestores com liderança fraca e com visão de curto prazo, uma vez que suas políticas e programas são pensados para apenas 4 ou 8 anos; Baixa integração entre Universidades, Empresas e Governo; Reduzida mão de obra local qualificada; Excesso de burocracia do Estado inibindo o empresariado de tentar inovar; Pouco apoio para os inventores/inovadores comercializarem seus protótipos, produtos ou serviços; Infra-estrutura logística precária (tenho vergonha de mostrar nossos portos e mercados para os amigos estrangeiros); Baixo incentivo para os jovens estudarem Engenharia; Bolsas de pesquisa com valores não atrativos, especialmente para mestres e doutores de outros estados/países formados em Engenharia; Baixo nível de comprometimento dos Doutores com suas universidades, etc. 

Se passaram 342 anos, milhares de índios foram exterminados, nordestinos a amazoneneses sofreram com os Coronéis de Barrancos, muitos dos quais ficaram milionários e partiram da cidade sem investir um centavo de dólar em P&D no Estado; os maus gestores públicos descaradamente têm aumentado seus patrimônios a custa do erário público e estão muito mais preocupados em se manter no poder do que realmente gerar modelos inovadores de gestão que ajudem a melhorar a vida de nossos moradores. 

Finalmente, temos uma oportunidade ímpar de mudar esse cenário nos próximos anos, mas enquanto a educação, ciência e tecnologia não receberem um choque de gestão e a bolsa família e bolsa floresta forem as migalhas (Velhaçao) encontradas para amenizar a miséria do povo esquecido, dificilmente teremos motivos para celebrar a emancipação e inovação em nossa cidade.

* Dr. Em Engenharia de Produção e Professor da UFAM.

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