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domingo, 31 de julho de 2011

Reflexão: "Dai- lhe vós mesmo de comer "

Por: Júlio Lázaro Torma*
 
Mateus nos fala sobre a multiplicação dos pães ou o " banquete da vida", em oposição ao banquete de aniversário do Rei Herodes Antipas que manda matar João Batista, onde há fartura, concentração de alimentos que é o " banquete da morte".

O texto de Mateus 14,13-21 é cheio de simbologia, onde temos 5 pães, 2 peixes, 12 cestos e 5 mil homens que seguem a Lei. 5 pães são os cinco livros da Torah (Pentateuco), á palavra de Deus. Peixe (presença salvadora de Jesus), os primeiros cristãos representavam Jesus com o acrostico do peixe, as letras IXTU ( Iesus Xristós Théou Uios Seteer), " Jesus Cristo Filho de Deus Salvador"; 12 para o povo judeu é a totalidade e plenitude, os 12 meses do ano; 12 tribos do povo eleito (Israel) e 12 apóstolos (Igreja). O deserto é o local da passagem dos 400 anos de escravidão dos hebreus nas mãos dos egípcios e a caminhada para a terra que mana leite e mel. Sentar na Bíblia é sinal de soberania e poder, relva é a fartura e abundancia.
 
5 mil homens, sem contar as mulheres e crianças que foram alimentados, poderia estar ali presentes de 15 a 30 mil pessoas, que seria muita gente para o território da Galiléia.

A vida de Jesus inicia em Belém (casa do pão), antes de sofrer a morte, ele se entrega a nós na Santa ceia em forma de pão. Ele é o " pão da vida que desceu do céu" (Jo 6,41), como o maná que alimentou o povo de Israel durante 40 anos no deserto do Sinai.

O seu programa de vida é dar vida aos mais pobres, como anunciou na sinagoga de Nazaré (Lc 4,18-19), e falou" EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA EM ABUNDÂNCIA E PLENAMENTE" (Jo 10,10). O seu programa de vida vai contra o projeto da elite judaica e da dominação romana de seu tempo que oprime o povo de Israel. O povo sai das cidades local de opressão e vai ao deserto, ao encontro de Jesus, que tem compaixão e cura as suas doenças.

A Missão de Jesus é " curar" e "alimentar", o povo que está doente e faminto,ele não lhe dá as costas.Os discípulos tem pena do povo,mas se acham impotentes em alimenta-los,e na ótica mercantil,mandam o povo embora para comprar alimentos,como falando não temos condição de alimenta-los.
 
Jesus lhes manda: " Dai- lhe vós mesmo de comer" (Mt 14,16), em Marcos, fala:"Vocês é que têm de lhes dar de comer" (Mc 6,37), onde não devemos de fugir da nossa missão, que é de anunciar a Palavra de Deus e também de alimenta-los, com o alimento material.

A proposta de JESUS é simples para resolver o problema da fome, é em Marcos a organização do povo em pequenos grupos de 100 a 50 pessoas, numa solução justa de partilhar o alimento, diferente daqueles que controlam o dinheiro e que não mata a fome do povo.

JESUS abençoa o pão como na ceia familiar judaica em que o pai de familia, dono da casa, abençoa o pão e depois reparte com os outros membros da casa. Cinco pães e dois peixes são sete é o símbolo da plenitude, onde todos devem ter acesso aos alimentos sem distinção, que é repartido em doze cestos que depois sobra.

Para Mateus, Jesus quer que o alimento seja partilhado e não acumulado, pois todo o " Alimento é dom de Deus e direito de todos".

No Brasil, o maior país cristão do mundo, temos uma multidão de miseráveis e famintos, numa terra em que á fartura de alimentos que são disperdiçados, da riqueza que é acumulada, da terra, água e alimentos concentrados. Não podemos nos considerar cristãos, discípulos de Jesus, enquanto em nosso meio á pessoas que passam e morrem de fome, vivendo na miséria.

O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes não é algo mágico, ela só acontece através da organização popular e da partilha, onde numa época em que o flagelo da fome atinge milhares de seres humanos, familias inteiras em todo o mundo. Somos desfiados a fazer algo para acabar com a fome.

A PROPOSTA DE JESUS é que não devemos de esperar a mudança da sociedade, para resolver o problema da fome, dos poderes políticos e econômicos. Mas fazer apartir dos debaixo, nós mesmos iniciar está mudança, num grande mutirão de superação da miséria e da fome, onde a partilha e organização todos ficam saciados e o pão sobra.

Ao celebrarmos a Eucaristia, celebramos a justiça do Reino de DEUS já presente e de que é acima de tudo partilha. E ao mesmo tempo denunciamos o sistema injusto que acumula e gera fome e miséria.
 
* Pastoral Operária da Arquidiocese de Pelotas/ RS

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